Jonathan Friedland, CCO da Netflix (Foto: Nick Ellis)
Segundo o CCO, o Netflix tem procurado adaptar seu conteúdo para
agradar o público brasileiro. Para ele, 80% do conteúdo servido pela
plataforma é o mesmo, seja nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil.
“Brasileiros gostam de coisas diferentes, como UFC e comédias estilo stand-up, ao mesmo tempo em que detestam as novelas produzidas em outros países da América Latina”, explica.
Para Friedland, em cada novo mercado,
são encontrados novos desafios. E hoje em dia, o mundo de transmissões
via streaming é bastante semelhante ao de redes de TVs, basicamente
fazendo licenciamento de conteúdo. "A maioria dos consumidores do
Netflix são jovens, e procuramos agradar a este público.”
Qualidade do Serviço no Brasil e nos Estados Unidos
E um dos chefões da Netflix não fugiu à pergunta que
todos fizeram quando o serviço estreou por aqui: por que o serviço era
tão limitado? Jonathan conta que no começo, a qualidade dos vídeos era
realmente muito fraca. "Hoje em dia isso depende da banda disponível. A
Netflix oferece três ajustes de qualidade, que podem ser selecionados de
acordo com a velocidade da conexão", explica.
E isso faz todo sentido, se levarmos em consideração que o sistema usa a tecnologia Adaptive Screening
para calcular a qualidade necessária de acordo com o uso de banda dos
consumidores, ajustando e compensando constantemente a qualidade da
imagem que está sendo exibida. Se o seu irmão liga o Playstation 3 no
quarto e começa a jogar em rede, a tecnologia calcula qual é a banda
disponível e faz o ajuste no vídeo ou filme.
A qualidade da banda larga no Brasil é um problema
para a Netflix. Segundo Jonathan, “no Brasil, as operadoras cobram por
uma velocidade, mas não entregam o combinado aos consumidores, e isto é
uma barreira para o progresso do país. Se você impede o crescimento e o
progresso ao impor limites, isto não traz nenhum benefício para os
consumidores.”
Temos a tecnologia para entregar uma experiência muito melhor do que o YouTube, usando a mesma banda"
Nos Estados Unidos, a Netflix está presente em 35% das residências. O
custo da infraestrutura continua caindo, mas as operadoras não reduzem
seus custos. “Seria possível colocar todo o conteúdo do Netflix em uma
única fibra óptica”, completa Jonathan.
Voltando a falar sobre o serviço da Netflix no Brasil, Jonathan admite
que a experiência não é a ideal, mas é suficiente para que os usuários
consigam assistir aos programas e filmes. “A qualidade do nosso serviço
não é ruim, mas ainda não é tão boa quanto poderia ser. Temos a
tecnologia para entregar uma experiência muito melhor do que o YouTube,
usando a mesma banda”.
Ele também lembra que os servidores Cloud ficam
todos nos Estados Unidos, e embora a Amazon e outras empresas estejam
construindo outros servidores em outros países (incluindo no Brasil),
tudo é muito novo, e muita coisa ainda precisa ser testada.
Produção de séries
A Netflix está apostando na produção de conteúdo
para seus assinantes, tudo baseado em muitas pesquisas de mercado. Ao
perceber o sucesso que séries como Breaking Bad, Mad Men, Weeds, Lost e
Battlestar Galáctica fazem no serviço, a empresa notou que seria
interessante apostar na produção de séries dramáticas.
A série Arrested Development está há mais de 5 anos
fora do ar, mas ainda continua a fazer um imenso sucesso entre os
assinantes do serviço. A empresa resolveu então juntar todo o elenco
original para a produção de mais 10 episódios, que serão exibidos com
exclusividade na Netflix. A Netflix não está realmente produzindo as
séries, mas tem feito contratos de investimentos com estúdios, que
entregam os programas para serem exibidos no serviço.
Para Jonathan, em um futuro próximo, a TV aberta só
irá produzir reality shows, programas de notícias e de esportes, além de
programas de jogos como American Idol. O espaço para séries dramáticas
está sumindo da TV aberta. A TV fechada ainda produz excelentes
programas, mas a tendência é que isto seja feito no futuro por canais de
transmissão de vídeo em streaming.
Além de Arrested Development, a primeira das séries é
Lillyhammer, protagonizada por Steve Van Zandt, guitarrista da E-Street
Band de Bruce Springsteen, e ator da série Os Sopranos. A série tem
uma peculiaridade, ela tem 60% do áudio falado em norueguês, o que
praticamente impediria a sua exibição em qualquer canal nos Estados
Unidos, país no qual as pessoas não gostam de assistir a filmes e
séries legendadas.
“Empresas de TV fechada gastam 10 milhões de dólares
em um episódio, e precisam gastar mais 10 milhões apenas com a
publicidade.” Conta Jonathan. “No cinema é a mesma coisa, um filme que
custou US$ 100 milhões vai precisar do mesmo valor para ser divulgado.
Com o Netflix, não precisamos gastar com publicidade, basta mostrar o
conteúdo para nossos assinantes e aguardar o resultado.”
Entre as próximas apostas da Netflix estão a série
House of Cards, o remake de uma série inglesa, que está sendo produzida
pelo cineasta David Fincher, e terá episódios dirigidos pelo próprio
Fincher e Joel Schumacher; a série Hemlock Grove do diretor Eli Roth,
com Famke Janssen (X-men), uma série pesada, com temática dark, que terá
13 episódios; e Orange is the New Black, nova série da criadora de
Weeds. “Pretendemos continuar adicionando mais conteúdo, além de
investir em séries com bons roteiristas, diretores e atores, dando a
liberdade para que produzam um conteúdo de qualidade”, diz Jonathan
Friedland.
E, para encerrar a conversa, o CCO da Netflix
revela seu lado idealista, em um universo cultural complexo que preza
muito pouco pela democracia e pela pluralidade: “Queremos que as pessoas tenham a oportunidade para assistir o que quiserem, na hora em que quiserem.”
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