sexta-feira, 6 de julho de 2012

'Brasileiros gostam de coisas diferentes', diz diretor da Netflix


A primeira palavra usada por Jonathan Friedland, CCO (Chief Communications Officer) do Netflix , para descrever o mercado no Brasil foi “desafiador”. Em uma conversa franca com o TechTudo, Friedland falou sobre o primeiro ano da empresa no Brasil, as adaptações de conteúdo que tiveram que ser feitas para o nosso mercado e o futuro da computação na nuvem.
Jonathan Friedland, CCO da Netflix (Foto: Nick Ellis)Jonathan Friedland, CCO da Netflix (Foto: Nick Ellis)
Segundo o CCO, o Netflix tem procurado adaptar seu conteúdo para agradar o público brasileiro. Para ele, 80% do conteúdo servido pela plataforma é o mesmo, seja nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil. “Brasileiros gostam de coisas diferentes, como UFC e comédias estilo stand-up, ao mesmo tempo em que detestam as novelas produzidas em outros países da América Latina”, explica.
Para Friedland, em cada novo mercado, são encontrados novos desafios. E hoje em dia, o mundo de transmissões via streaming é bastante semelhante ao de redes de TVs, basicamente fazendo licenciamento de conteúdo. "A maioria dos consumidores do Netflix são jovens, e procuramos agradar a este público.”
Qualidade do Serviço no Brasil e nos Estados Unidos
E um dos chefões da Netflix não fugiu à pergunta que todos fizeram quando o serviço estreou por aqui: por que o serviço era tão limitado? Jonathan conta que no começo, a qualidade dos vídeos era realmente muito fraca. "Hoje em dia isso depende da banda disponível. A Netflix oferece três ajustes de qualidade, que podem ser selecionados de acordo com a velocidade da conexão", explica.
E isso faz todo sentido, se levarmos em consideração que o sistema usa a tecnologia Adaptive Screening para calcular a qualidade necessária de acordo com o uso de banda dos consumidores, ajustando e compensando constantemente a qualidade da imagem que está sendo exibida.  Se o seu irmão liga o Playstation 3 no quarto e começa a jogar em rede, a tecnologia calcula qual é a banda disponível e faz o ajuste no vídeo ou filme.
A qualidade da banda larga no Brasil é um problema para a Netflix. Segundo Jonathan, “no Brasil, as operadoras cobram por uma velocidade, mas não entregam o combinado aos consumidores, e isto é uma barreira para o progresso do país. Se você impede o crescimento e o progresso ao impor limites, isto não traz nenhum benefício para os consumidores.”
Temos a tecnologia para entregar uma experiência muito melhor do que o YouTube, usando a mesma banda"
Nos Estados Unidos, a Netflix está presente em 35% das residências. O custo da infraestrutura continua caindo, mas as operadoras não reduzem seus custos. “Seria possível colocar todo o conteúdo do Netflix em uma única fibra óptica”, completa Jonathan. 
Voltando a falar sobre o serviço da Netflix no Brasil, Jonathan admite que a experiência não é a ideal, mas é suficiente para que os usuários consigam assistir aos programas e filmes. “A qualidade do nosso serviço não é ruim, mas ainda não é tão boa quanto poderia ser. Temos a tecnologia para entregar uma experiência muito melhor do que o YouTube, usando a mesma banda”.
Ele também lembra que os servidores Cloud ficam todos nos Estados Unidos, e embora a Amazon e outras empresas estejam construindo outros servidores em outros países (incluindo no Brasil), tudo é muito novo, e muita coisa ainda precisa ser testada.
Produção de séries
A Netflix está apostando na produção de conteúdo para seus assinantes, tudo baseado em muitas pesquisas de mercado. Ao perceber o sucesso que séries como Breaking Bad, Mad Men, Weeds, Lost e Battlestar Galáctica fazem no serviço, a empresa notou que seria interessante apostar na produção de séries dramáticas. 
A série Arrested Development está há mais de 5 anos fora do ar, mas ainda continua a fazer um imenso sucesso entre os assinantes do serviço. A empresa resolveu então juntar todo o elenco original para a produção de mais 10 episódios, que serão exibidos com exclusividade na Netflix. A Netflix não está realmente produzindo as séries, mas tem feito contratos de investimentos com estúdios, que entregam os programas para serem exibidos no serviço.
Em um futuro próximo, a TV aberta só irá produzir reality shows, programas de notícias e de esportes"
Para Jonathan, em um futuro próximo, a TV aberta só irá produzir reality shows, programas de notícias e de esportes, além de programas de jogos como American Idol. O espaço para séries dramáticas está sumindo da TV aberta. A TV fechada ainda produz excelentes programas, mas a tendência é que isto seja feito no futuro por canais de transmissão de vídeo em streaming.
Além de Arrested Development, a primeira das séries é Lillyhammer, protagonizada por Steve Van Zandt, guitarrista da E-Street Band de Bruce Springsteen, e ator da série Os Sopranos.  A série tem uma peculiaridade, ela tem 60% do áudio falado em norueguês, o que praticamente impediria a sua exibição em qualquer canal nos Estados Unidos, país  no qual as pessoas não gostam de assistir a filmes e séries legendadas.
“Empresas de TV fechada gastam 10 milhões de dólares em um episódio, e precisam gastar mais 10 milhões apenas com a publicidade.” Conta Jonathan. “No cinema é a mesma coisa, um filme que custou US$ 100 milhões vai precisar do mesmo valor para ser divulgado. Com o Netflix, não precisamos gastar com publicidade, basta mostrar o conteúdo para nossos assinantes e aguardar o resultado.”
Entre as próximas apostas da Netflix estão a série House of Cards, o remake de uma série inglesa, que está sendo produzida pelo cineasta David Fincher, e terá episódios dirigidos pelo próprio Fincher e Joel Schumacher; a série Hemlock Grove do diretor Eli Roth, com Famke Janssen (X-men), uma série pesada, com temática dark, que terá 13 episódios; e Orange is the New Black, nova série da criadora de Weeds.  “Pretendemos continuar adicionando mais conteúdo, além de investir em séries com bons roteiristas, diretores e atores, dando a liberdade para que produzam um conteúdo de qualidade”, diz Jonathan Friedland.
E, para encerrar a conversa, o CCO da Netflix revela seu lado idealista, em um universo cultural complexo que preza muito pouco pela democracia e pela pluralidade: “Queremos que as pessoas tenham a oportunidade para assistir o que quiserem, na hora em que quiserem.”

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